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"O Mentiroso"

 

 

A

 

- Pequena Fábula de Um Mentiroso -

 

 

Minha infância...

Doces lembranças de minha família, meus sonhos, quimera e fantasias.

Inocência com os poderes de meus super-heróis.

Podiam-se tudo (desde que os adultos não soubessem), até desejava ganhar um caminhão com a caçamba lotada de merendinha recheada de morango, jujubas e novos brinquedos. Sim, meus brinquedos...

Meu carrinho de fricção, meu radio-controle, minha fantasia de homem-aranha  (não usava, mas guardava bem arrumadinha, afinal um Super-herói pode ser solicitado a qualquer momento), meu uniforme de militar de alta patente, é claro, e como não poderia faltar meu forte apache e os bonecos de plástico pouco original, estáticos e frágeis.

Mas como eu vivia intensamente queria mais. 

Revólver, espingarda, algemas, faca, estrela de xerife, minha nossa!... Eu tinha tudo que existia na realidade.

Mas eu queria mais...

Minha infância; astúcia e delicadeza... 

Meu verdadeiro Super-homem sentava-se ao meu lado nas refeições de todo dia, e ao usar toda a minha capacidade e pureza infantil, recebi como prêmio, meu desejo materializado em uma espingarda de pressão - com chumbinho.

E passei dos quadrinhos para as telas de cinema.

Fazia mira em tudo que via (sem movimento, lógico), seguindo rigorosamente as ordens e orientações de meus pais.

Comecei com a bacia de roupas de minha mãe, enorme, não errava nunca e o som do tiro realmente  original sem sonoplastia.

Em pouco tempo eu estava já, alvejando meus carrinhos, meu radio-controle, meu boné, meu tênis, o pneu do carro, a antena de TV, e outras coisinhas inocentes.

Como eu pensei depois de alguns avisos que seria melhor eu não demonstrar tanta destreza assim, optei por alvos menores que exigissem maior concentração e melhor desempenho.

Fiz um alvo com canetinha hidrocor na parede de madeira da garagem e comecei do zero.

É sim, do zero que marcava o menor número e de maior pontuação.

Nem preciso dizer o resultado.

Meus coleguinhas, bem, tornei-me chefe da batotinha... 

Mais tarde já deitava de primeira, caixinha de fósforo, dedal de costura, dominó, prendedor de roupas, e tudo que não fosse maior que a fivela do meu cinto.

Prêmios e mais prêmios. Lembro do último que ganhei (de mim mesmo), foi a caixinha de bijuterias de minha irmã, vazia claro, parecia de mármore branco com manchinhas escuras e brilhava como se estivesse envernizada, uma beleza (depois que ela descobriu..., é uma outra história).

Todas as tardes pareciam dias de domingo, embrenhava-me no terreno nos fundos de casa com alguns arbustos e umas duas ou três árvores, e imaginava uma grande floresta com bichos enormes e perigo por todos os lados. Em cima, em baixo, do lado, no centro, à direta, à esquerda, chega! Não sei como dava conta de tantas ameaças.

Imitando o que via dos meus novos Super-heróis, eu estava nesta mesma floresta (aquela que fora crescendo nos fundos de casa), e rastejando pelo chão o que eu vejo! Uma joaninha bem no centro de uma folha verdinha, verdinha. 

Neste momento meu relógio com intercomunicador glacial exibe o sinal da base, acionei o comando de voz, - por voz - e respondi imediatamente: - Oi! Base. E a base respondeu: - Oi, é você?... Esta é sua maior missão: Acertar aquele inseto químico e radiativo e salvar a humanidade.

Tarefa simples, mas exigia complexidade, firmeza e coragem.

Eu tinha tudo isso, e outras que não me lembro mais. Apoiei os cotovelos ao solo, firmei minha possante arma automática e secreta, diminui a respiração, fiz a mira e atirei. Quando desfiz a mira eu percebi que o perigoso inseto não havia nem caído da folha e meu tirinho estava marcado com um pequeno furo ao seu lado. Eu disse: - Impossível!...  Algo me atrapalhou...  Este monstro já estava morto ou não teria ficado aí parado...  Eu sou o mocinho e dono da história por isso você tem que morrer!... Aproximei-me para tirar satisfações com o intrépido inimigo e algo chamou minha atenção por trás da folha e não dei tanta importância, pois o assunto estava exigindo uma resposta sobre a minha falha ou a falha do inimigo que não havia se matado com o meu tiro. 

Com tom ameaçador eu avisava que seria submetido ao mais cruel interrogatório e sob tortura ele teria que "voltar a morrer" e...

Meus olhos foram se desviando para o inusitado, a impressão era de que existia algo por trás daquela folha, então levantei o galho para ver o que havia ali. Pela sombra parecia-me um bolinho de terra seco. Olhei de perto e percebi que não se tratava daquilo. Meu coração passou de uma calma e segura aventura para um perturbador estado de aflição e insegurança. Meus super-heróis sumiram, a música em meus ouvidos transformou-se em um grito de filme de terror. Minha floresta ficou parecendo um lugar feio, uma armadilha para enganar crianças como eu. Uma invenção dos homens maus para rirem de mim enquanto eu chorava de medo.

Sozinho, coloquei minha mão sobre aquele bolinho de penas e percebi que eu havia dilacerado o pescoço de um pardal. Ficou tudo cinza e muito distante, e lembro que de joelhos ainda, pedi que ele voasse, pois era o pássaro que minha mãe dizia ser abençoado por Deus.

Deus! Eu disse: -Eu não sabia que seu passarinho estava ali...  Não me castigue por favor...  Não fique com raiva de mim...  Eu só estava brincando...

Não sei dizer se minhas palavras chegaram até onde ele mora, mas sei dizer que o silêncio estava profundo, e não ouvi nenhuma bronca sobre o que acabara de acontecer. Talvez ele ainda não soubesse.

Desnorteado, no mesmo lugar onde o pássaro de Deus dormiu, abri sua cova e o enterrei. 

Quando acentei o último punhado de terra naquele pequeno corpo, meu estômago começou a empurrar algo para minha garganta e tão forte que soltei o ar e comecei entre choro e palavras a pedir copiosamente desculpe, desculpe, desculpe...

E fui embora para nunca mais voltar. Nem olhava mais para os fundos de minha casa.

Aquele lugar representava minha dor, um pecado, uma tragédia, um segredo.

Por várias noites, pedia desculpas antes de dormir.

Como meus heróis haviam abandonado meu mundo fantástico, com eles partiram também minhas fantasias. Meu pai, numa mesma refeição de todos os dias, olhou-me e fez a pergunta que eu tanto me esquivara: - E a arma que eu te dei? Esperei o momento em que a comida passou rasgando minha garganta e repondi que ela estava precisando de uma limpeza.

Olhando para o espaço que ficava entre o prato e os seus olhos como se ele visse algo, que eu jamais veria respondeu: - Quando der eu levo pro Laurim limpá. Finalmente Deus me respondeu e percebi que a sua zamga já havia passado ou quem sabe, ele resolveu poupar-me por mais algum tempo (mamãe dizia que Deus conhece até mesmo o que sentimos no coração, então ele sabia que eu estava triste e arrependido).

Os anos se passaram, muitos deles, e a sensação do dia que marcou minha passagem para o mundo das verdades e mentiras ainda vive em mim.  


Penso que toda verdade tem um pouco de mentira, e toda mentira revela um pouco da verdade.

A omissão, bem, a omissão é aquele sujeito que não sabe qual regra usar e acaba mentindo pra si mesmo.

 

 


 

 

 

Causa e Efeito

 

Guardo comigo, não que eu faça questão, a passagem daquela tarde dos “dias de domingo".

Algumas situações disparam esses gatilhos emocionais, reflexo involuntário e entendo isso como uma forma de aviso no momento de decidir entre avançar ou retroceder.

Nunca levei as coisas como regras rígidas mesmo porque regras existem para serem quebradas; leis para serem desrespeitadas; ordem para serem anarquizadas e como penso tudo tem uma razão inversa na mesma proporção.

Estava eu, tentando cravar o prego na parede e a tal parede não aceitava que o tal prego penetrasse com mais facilidade.

Eu, num rompante de mostrar à parede que o prego era de aço o martelo de ferro, somados a minha força muscular, a dita cuja parede seria facilmente vencida. Imprimi o triplo da força no braço que empunhava o martelo ajustei o prego para receber toda essa carga e acionei o torque que meu dedão acabou tento que suportar.

E isso me faz lembrar minha mãe dizendo: -Meu filho, não existe crescimento sem trauma.

Entendi mais tarde como causa e efeito.

Mas também tem aquelas pessoas que causam certa "coisa" e só você sente o efeito.

Seria talvez minha irmã caçula, na época em que meus heróis faziam parte do meu mundo fantástico. Minha irmãzinha caracterizou o anti-herói que lutava contra nós, super-treinada em causar problemas, quando (nunca se sabia o momento) acionava sua sirene, o agudo de mil decibéis era ouvido a quatro quarteirões dali. Descobri que isso se tornara uma poderosa arma de destruição e efeito moral.

Efeito seria a ardência em minhas nádegas e a irritante condição de ficar de castigo.

Causa ou efeito.

   

 


 

 

 Eu e meu Eu

 

Ano de minha vida...

Seu nome ainda, representa tudo que vejo de belo e acolhedor.

Adolescência dourada e febril.

Amar era simples, como simplesmente ter o universo inteiro na carteira sem uma nota sequer.

Sua foto significava o passaporte para o infinito. E nosso mundo imenso...

Nosso mundo era nossa rua, o clube, a praia (com seus pais) e o almoço de todo domingo.

Domingo também era presságio da nova semana. Isto significava que a segunda não nos permitia amar; somente na terça, quarta, quinta...

Lembro-me de um passeio familiar até a praia. Durante a viajem de volta meu amor, repousando com a cabeça em meu ombro, fazia com que eu não movesse nem um músculo sequer para que ela  ficasse confortável e aquecida.

O dia começava a ceder espaço para a noite enquanto a paisagem desbotava quadro a quadro.

Entrei em um estado bucólico ficando entre o sonho e a distante realidade.  Não estava mais em lugar comum.

A escuridão não deixava que eu visse nada além de uma passagem estreita e sinistra. Cintilava uma claridade de luz branca após essa fenda. Esforcei-me demais para atravessar. E quando consegui apenas a claridade predominava naquele lugar, não conseguia ver nenhum detalhe senão, a silhueta de uma torre em forma de pirâmide. A estrutura toda gerava essa claridade do seu interior. No topo havia alguém, mas não sabia exatamente quem. A luz muito forte confundia minha visão.

Algumas poucas pessoas subiam pelas laterais como se fossem degraus de uma escadaria.

A pessoa que estava no topo, fazia movimentos com as mãos e às colocava no rosto como que se consolando por estar ali.

Eu não conseguia mover-me, meu corpo estava paralisado, minhas pernas não respondiam a nenhum comando, meus braços pesavam e meus músculos retesados com sensação de dor física.

Somente conseguia olhar, nem tampouco virar minha cabeça procurando a saída ou ajuda...

Aquelas pessoas estavam se aproximando do topo, eu pressentia que elas assim que o alcançassem algo ruim aconteceria.

Ele balançava a cabeça negativamente movendo os braços como querendo dizer, espere aí!

As luzes uma a uma se apagavam a partir da base e à medida que subiam isto fazia com que eu entendesse que aquilo seria uma contagem regressiva.

Comecei a entrar em desespero, meu coração disparou e meus sentidos ficaram aguçados, mas eu continuava imóvel sem tirar os olhos da pessoa que estava no topo.

O silêncio se instalara em meus ouvidos e o desânimo me abatendo por minha incapacidade de agir.

Minha garganta estava com um grito trancado como se houvesse algo apertando meu pescoço, o  ar pesado e escasso.

Neste momento tive a clara impressão que, aquele ao qual, havia me chamado também se conformara com o meu fracasso.

Mas foi assim que busquei um último vestígio de forças e joguei meu corpo para frente e neste momento senti algo bater em meu rosto e uma voz distante dizendo o meu nome.

Respondi a ela que havia tido um pesadelo.

Enquanto tentava refazer todas as imagens em minhas lembranças a luz da entrada da cidade avisava que estávamos a poucos metros do final do passeio.

Despedimos-nos, e fui para casa.

Éramos vizinhos de fundos, entre nossas casas havia apenas um terreno desocupado, aquele que anos antes, se tornara minha selva de aventuras e missões perigosas.

 


 


 

 

 

Seqüestro Emocional

 

Saudade...

Penso que este sentimento nasce, amadurece e envelhece. Como nós, que com o tempo sentimos a ação dos anos refletindo em nosso corpo em nosso organismo assim também, se nota o enfraquecimento de nossas defesas; e no lado psicológico nosso escudo de proteção invisível, deixando-nos mais frágeis e sensíveis a medida que envelhecemos.

No começo de minha vida racional a percepção sobre o mundo e os objetos ao meu redor serviam como aditivos para a formação dos meus sentidos e minhas emoções.

Não preocuva-me com outro sentimento senão o gostar. Simplesmente assim. Gostar sem distinguir entre o gostar de minhas coisas e gostar das pessoas.

A diferença estava em que, as coisas eu precisava pegar e para as pessoas eu só precisava pedir.

Na segunda década da vida este sentimento está latente e podia-se ameniza-lo com situações paliativas, momentos dispersivos e com pessoas de todos os tipos.

Funcionavam como pequenas doses de anestésico.

Na quarta década, a saudade é um grilhão preso ao seu tornozelo e na outra ponta, à parede do tempo.

Pode-se ver, sentir, tocar e nada é capaz de engambelar esse sentimento, porque dói.

Poucos minutos haviam se passado, e a satisfação estava sendo dominada pela saudade. Era domingo. A distância até minha casa podia-se medir pela quantidade de passos.

Abro o portão, e estranhamente percebo que haviam alterado nossa rotina. Não havia nenhuma luz acesa.

Continuo pelo corredor e a janela aberta deixava amostra o vazio da sala. A escuridão na cozinha denunciava que não haveria duvida (mamãe dizia que o melhor espaço da casa é a cozinha porque as três coisas mais gostosas aconteciam lá, boa conversa, café e mais conversa).

Apesar de causar-me estranheza encontrei um tom de graça na situação - pensei em festa surpresa.

Pensamento desfeito. Ouço uma voz interior dizer que havia acontecido algo com minha família.

Neste momento senti cada um dos poros do meu corpo vibrar, uma descarga elétrica percorreu as extremidades do meu corpo subindo até minha cabeça fazendo meu rosto enrubescer. Tomei o caminho de volta sem saber aonde ir, o que fazer. Estava sendo levado por esta voz que falava muitas coisas ao mesmo tempo e minhas pernas pareciam obedece-la.

Lembro da varanda desta casa com a luz apagada, entre a porta e o batente uma senhora com rosto pálido e olhar fosco para lugar algum, e o cheiro de mofo que invadia meu nariz dizer que o meu pai havia morrido.

Cruzei os braços sobre meu estômago, dobrei-me na condição de querer implodir pela fúria do que acabara de ouvir enquanto minha saliva se transformava em fel espumando em minha boca, voltei meu olhar para aquele monstro de cera e cuspi a palavra mentira!

Desfalecido fui até onde meu amado pai estava.

Da entrada já se podia admirar os adornos na tela pintada pelas mãos do fético, cruel e desumano artista.

As pessoas haviam formado um corredor  para que me fosse possível prosseguir. Não enxergada um só rosto nesta multidão. O silêncio em meus ouvidos foi quebrado pela voz interior; e obedeci.

Foi um longo e íngrime caminho até colocar minha mão sobre seu peito e dar-lhe adeus.

A maior de todas as mentiras é a verdade.

Refiro-me a quando todos conhecem a verdade e só você não acredita.

Como saber de algo e perplexo você sente um outro ser emergir de dentro para fora despertando nosso instinto mais primitivo.

 

 


 

 

 

 

O Pagamento

 

Não sabia o dia da semana, as horas, se estava claro ou não.

O mundo se tornara tão abstrato quanto eu.

Vivia no vácuo entre lembrar de minhas necessidades fisiológicas e alimentar meus pensamentos mais degradantes.

Em pé, no centro do retângulo do meu quarto-prisão procurei um sentido para a vida. No momento só existia o oco da extinção de todas as coisas (o “exagero” não faz referencia a vida de uma pessoa que se vai, mas o resultado é proporcional ao “nível” de amor na essência e na totalidade que sentimos por alguém).

Minha voz interior havia se calado, pensamentos vinham e iam a revelia, vontades, desejos, qualquer expressão que não fosse de revolta não me cabia.

Nossa família se encontrava como que por acaso dentro de casa, na verdade todos estavam como o mesmo sintoma.

Já tendo rompido com os laços de humanidade que constituíam minha psique,

declinei-me lentamente sobre a lateral de minha cama e veio-me um incontrolável desejo de gritar ao mundo que eu estava ali, esperando uma explicação e neste momento comecei a sentir meu estomago empurrar algo para minha garganta e só lembro-me de dizer repetidamente desculpe, desculpe, desculpe...

Desculpe-me por não estar contigo, ao seu lado, quando mais precisou de mim. Eu precisava estar contigo. Eu não consigo perdoar-me por isso.

Fui por alguma razão, ver seu carro e suas coisas que ainda estavam como havia deixado. E ao voltar parei, virei e olhei para os fundos de casa.

Comecei a andar em direção ao terreno que enterrara meu segredo.

Dobrei meus joelhos na divisa dos dois mundos e apenas falei com minha voz interior. Questionei sobre todas as coisas que havia aprendido. O respeito sobre tudo que havia acima e abaixo de mim. Temor, fé, no amor e na aceitação sobre os desígnios do que é celestial. Então disse: - Sou pequeno diante de ti, sou fraco e incapaz, sou injusto porque estou privando minha boca de dizer teu nome, meu peito agora já reclama por viver na solidão. Perdi o que de maior havia em sentimento guardado em teu nome, estou sujeito a cair em águas profundas se o que era limpo se sujou. Nada mais faz com que eu acredite na palavra e no perdão.

Perdi o que para mim só havia um, e tu perdeste o que para ti havia milhões.

Se isso tudo é por causa de seu pardal, não tenho mais divida contigo!

 

"Desconfie de todo aquele que não sabe dizer não. Toda divida tem sua paga, todo ministro tem  seu ministério, mesmo os anjos e santos de ti, um dia cobrarão."  

 

 


 

 

O Papel e a Pedra

 

... A religiosidade cósmica é a mais nobre e poderosa força propulsora da pesquisa cientifica.

O individuo que não sente esta emoção, que não se deixa arrebatar de espanto está praticamente morto. (Einstein)

 

O que é ideal é imaginário.

Não sou um idealista nem tampouco dou muita atenção sobre as idéias para interpretar o fundamental que possa explicar o mundo e suas ações na busca de considerações éticas. Mesmo assim, eu aspiro o que é ideológico por considerar o abstrato como formador de opinião e desta maneira posso teorizar sobre minhas idéias relativas ao mundo, a política e a religião.

O abstrato provoca a imaginação e o insólito é o resultado de minha narrativa como produto final.

Como pensei que nunca seria (pela minha ignorância e gnosticismo) um compreensível teólogo consegui apenas com o pouco que aprendi sobre doutrinas religiosas a prevenir-me do mal da teofobia. Já os teólogos se nutrem de uma mistura de todas as "logias", por anseios maiores em um dia se verem contaminados pela loucura da teomania.

Posso por algum motivo acreditar na sorte contrapondo-me ao que aceito como conhecimento cognitivo, como também, aceito o amor, a felicidade e a alma. E o fator sorte contribuiu para que eu conseguisse tornar-me com muito esforço apenas um idiota auto-suficiente. Um completo idiolotra.

Como ainda sou um ser em formação passei a adotar como minha filosofia de vida a teoria, não obstante, sou um auto-entitulado teorista. No resumo não sou absolutamente nada, já que, o que pratico pela teoria é de conceito nulo e o que não pratico é por não saber como praticá-la. Sou o subproduto de todas as considerações.

Para resumir de forma prática minha trajetória somando os fracassos e sucessos, alegrias e tristezas, perdas e ganhos, e etc. Sou na verdade um autêntico e assumido imitador, logo, sou "imitologo". Acho que a grande maioria das pessoas que conheço também o é. Copiam, plagiam e arremedam-se apropriadamente; camaleão socialmente hipócrita.

Somos vítimas conscientes dos deuses do marketing, e ainda bem que esses profetas de gravatas e ternos são tecnicamente experientes para indicar-nos o caminho mais seguro, o que pensar, o que comer, o que vestir, e assim nos lapidam com novas atitudes com o comportamento ideal para globalizar nosso intestino grosso e com isso não nos sentirmos excluídos do "novo mundo".

 


 


 

 

Dez Anos a Mil

 

Morremos um pouco a cada dia ou matamos a cada dia um pouco da vida porque morremos...

 

A única certeza que tenho é a vida; estou vivo. A morte é uma variável que tecnicamente pode caracterizar o fim, ou o começo de uma nova jornada, caso sejamos merecedores de ocuparmos os campos do jardim do Éden. Se não, somos fadados a continuarmos mortos e tolhidos de qualquer graça confinados ao purgatório.

Céu caso exista, meu pai está lá, Chico Xavier também, todas as crianças, Frei Damião, Madre Tereza e Chayenee minha cadela de estimação.

Na mesma relação no inferno, está Caim, Judas (com reservas), Jack Extirpador, Hitler (esperando mais uma dúzia de novos camaradas) e o próprio dono do lugar.

Universo sim, existe e posso postular mesmo sendo leigo, representante original da origem da vida. Sem fusão ou conotação religiosa sobre alma, espírito ou humanidade.

Se realmente for como nos ensinam o livre arbítrio é uma maneira injusta de considerar as almas absolvidas ou culpadas por suas atitudes enquanto mortais.

Como posso aceitar que tudo aquilo que nos consome e atrai, alça-nos como peixes esfomeados e “inocentes”, e ainda ficam tão próximos e a revelia pelos cantos do mundo, nos prédios, nas revistas, na mente, na casa da gente, dentro de nós.

Porque devemos entender como solução única o Apocalíptico cenário para a escolha dos justos e puros como um último alento para a “limpeza” do nosso mundo.

Penso na praticidade de acabar apenas com o demoniozinho esculhambador e tudo estaria resolvido (ou não!).

Na verdade se o dilúvio foi uma maneira de tentar “consertar” tudo, é provável que não tenham levado em conta que o problema possa estar na concepção da espécie e não na compreensão que temos sobre a vida; em nossa base existencialista.

Como podemos nos defender dos malfeitores que se espalham ao vento como poeira.

Certo, temos que acreditar e precisamos de fé. Uma fé que seja plena e com ausência de conflito.

Uma crença cega e ferrenha que seja capaz de colocar o mal distante de nossa vida e quem sabe do mundo. E essa fé, mesmo assim não oferece guarida para aqueles que amamos simplesmente porque somos individuais em atitudes e sentimento.

Digo que, minha fé não salva a vida de meu filho, somente ele pode salvar-se.

Meu cérebro pode estar programado para ter fé. Sente necessidade de acreditar e que a biologia não consegue explicar partindo do suposto que, algo criou meu cérebro com essa sensação impressa ou meu cérebro criou Deus. Somos considerados Designer Perfeito. Quer dizer que saímos de uma prancheta direto para a linha de montagem.

Darwin não me convence e nem meu vizinho, que acredita que viemos das profundezas do mar (prefiro esta teoria à dos macacos).

Acho que o criador começou pelo Universo...

Primeiramente criou algo a sua imagem então surgiu o primeiro grande luzeiro, o Sol.

Como a energia da luz não deixava que ele admirasse os Anéis de Saturno, os Buracos Negros, as Supernovas e as Estrelas, resolveu contrapor a luz com sombra e foi então que surgiu seu segundo grande luzeiro, a Lua.

Ainda sendo pouco, queria mais... Condensou sua formula e fez tudo no mesmo instante com apenas uma explosão. E finalmente sua idéia foi contemplada com o surgimento do Infinito, já que ele não poderia ver o último planeta. Com o aparecimento do tempo em razão dos eventos, teve de acelerar o próprio a velocidade da luz.

Como nada é eterno, ficaria mais funcional a manutenção do infinito se houvesse quem o ajudasse com o serviço braçal enquanto ele se dedicasse apenas a criação (o ócio faz bem a imaginação, as pessoas se tornam mais criativas).

Começo então a entender a origem do caído. Acreditando ser a imagem e semelhança, pensava em ter os mesmos privilegio, o mesmo poder, a igual condição de ser dono e não serviçal, e esse foi o momento que surgiu os sintomas de inveja, traição, dissimulação, mentira (não necessariamente nesta ordem)...

Para acalmar o "coisa ruim" deu-lhe a chance de tentar colocar em prática o sua capacidade de desenvolver e criar o seu próprio mundo (que mal faria?).

Foi desta maneira que se deu origem ao nosso planeta. O cara era tão atrapalhado que levou uma semana para tentar imitar tudo que existia no Universo. Inventou os monstros pré-históricos, chuvas ácidas, terremotos, e muito, muito fogo...

Queria mais... Tentando descobrir a técnica do criador foi até o Universo dar uma espiada no que havia de novo para poder copiar. Foi então que o "invejoso" percebeu que havia duas criaturinhas bonitinhas e engraçadas ainda em fase de acabamento, mas a tentação era tanto que as roubou e jogou no seu mundinho com toda a bagunça.

Irado, o criador rompeu definitivamente com o "coiso" e lhe avisou que um dia nos tomaria de volta nem que isso levasse uma eternidade, e que nos salvaria de toda a maldade, sem que precisasse usar de seu poder ou mentiras, ou furtar o que lhe pertencia.

Começa então a grande batalha e talvez nos salvemos à medida que aceitarmos e entendermos que estamos no campo do inimigo, na casa do malfeitor; segundo suas regras e suas leis...

Acredito que exista dentro de cada um, a poção mágica, o grande mistério, não encontraremos a resposta em letras garrafais por não ser o estilo propriamente daquele que nos concebeu.

Se formos a sua imagem e semelhança temos por esse princípio que sentir, pensar, e acreditar na razão de estarmos aqui e por quê...

Que bom seria se a humanidade fizesse valer-se do poder de mudar tudo, mudar o mundo, uma pessoa por vez.

Não temos pressa se nem sabemos (ainda) para onde vamos.

Ora, qualquer lugar deva ser melhor que este...

A sensação de mistério fascina, seduz e acaricia nossos medos.

E o desejo de vivermos uma experiência única é a porta de entrada para o mundo dos cegos,

assim não vemos que muitos saíram por onde tantos outros teimam em entrar.

Lá dentro não se sabia o que havia além de sombras e vultos que desfilavam na parede em frente a janela.

Mas que outra paisagem nos faria sentir que estávamos tão próximos de nossa realidade.

Éramos como zumbis sorvendo em canudinhos a sobrevida dos membros do grupo.

Espalhados pelo assoalho como frutos apodrecidos, revogávamos a moralidade e o princípio de nossa natureza fracionando a tudo que existia em uma ínfima chance de sobrevivência.

Como animais ferozes em território hostil lutávamos por nossa parte da ração comunicando-se em dialeto prosaico sobre efeito do que é efêmero.

Queríamos mais... Sempre mais.

Aquele que não atingisse o estado de letargia e a aparência de um mumificável seria considerado excluído (na gíria eram denominados "Alvas").

Sim, corríamos em pistas de alta velocidade em que tudo é previsível, mas não inevitável.

Ao meu lado mais um nome sem importância, outro corpo estendido em submissão aos meus mais estranhos desejos, e a certeza de que nada de novo existia de baixo do céu.

Levei meus pensamentos a um mundo raro, jamais revivido...

Veio no vento o aroma único de sua pele vaidosamente tratada. O sabor de seus lábios que tantas vezes busquei neles, a força do homem que seus olhos viam em mim. O seu corpo perfeito que guardava sua alma perfeita, casta e etérea. Em seu peito estava minha casa e jamais eu estaria perdido, ela era o meu norte, meu único sentido; minha alegria.

Seu mundo era de paz, uma paz de outro mundo. Fiz tua minha vida e era sua vida que eu vivia, por isso somente respirava o oxigênio que vinha de sua boca. O futuro estava perto e perder não existia...

O barulho estéreo do outro cômodo trouxe-me de volta a cena.

Os brilhos refletidos no chão orientavam o caminho, e mergulhado entre cacos de vidro e num verniz de caldo turvo que vertia de todo seu corpo: o amigo de minha já perdida infância. Minha espada e meu escudo. Aquele que mesmo fraco poupava seu músculo caso eu precisasse ser carregado...

 

...continua...